Decolou de Beirute, às 13h15 (horário de Brasília), o terceiro voo de resgate brasileiros e familiares da zona de conflito no Líbano. A bordo da aeronave KC-30 do Governo Federal, 218 passageiros, entre eles 11 crianças de colo e cinco animais domésticos. No percurso até o Brasil, haverá uma parada técnica em Lisboa, Portugal. A previsão é de que a chegada à Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos, ocorra nesta quinta-feira, 10 de outubro, por volta das 7h30.
"Há um contato constante, um diálogo entre a embaixada e a comunidade brasileira. Um sistema por e-mail, WhatsApp, grupos que reúnem os brasileiros na região"
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores
Quando esta terceira fase da Operação Raízes do Cedro for finalizada, o país vai alcançar a marca de 674 brasileiros e familiares resgatados, além de 11 animais domésticos. A prioridade de composição das listas é para mulheres, crianças, idosos e brasileiros não residentes no Líbano. Um trabalho de articulação que envolve equipes do Ministério das Relações Exteriores em Brasília e na Embaixada do Brasil em Beirute e a ação operacional da Força Aérea Brasileira (FAB).
A estimativa é de que a comunidade brasileira no Líbano reúna em torno de 20 mil pessoas. Cerca de três mil manifestaram o interesse em retornar. Em entrevista nesta quarta-feira ao programa Bom Dia, Ministro , Mauro Vieira (Relações Exteriores) avaliou que a operação no Líbano tem potencial de ser ainda maior do que a realizada ano passado em Israel, Cisjordânia e Gaza, quando cerca de 1.560 brasileiros e familiares, além de mais de 50 animais domésticos, foram resgatados da zona de conflito.
“É uma operação de grande vulto. Será maior do que foi a operação na Palestina, na Faixa de Gaza, em Israel no ano passado. As projeções e expectativas são maiores. Em torno de três mil pessoas estão em contato com a Embaixada do Brasil em Beirute”, disse Vieira. “Há um contato constante, um diálogo entre a embaixada e a comunidade brasileira. Um sistema por e-mail, WhatsApp, grupos que reúnem os brasileiros na região. São cerca de 20 mil em Beirute, arredores de outras cidades do Líbano e um número grande manifestou interesse em voltar”, completou o ministro.
PRÓXIMOS - O Itamaraty, por meio da Embaixada do Brasil em Beirute, está em contato com brasileiros e seus familiares próximos para a organização de novo voo de repatriação, a depender das condições de segurança no terreno. O governo brasileiro reitera o alerta para que todos sigam as orientações de segurança das autoridades locais e, para os que disponham de recursos para tal, que procurem deixar o território libanês por meios próprios. O aeroporto de Beirute continua em operação, principalmente com voos da companhia libanesa Middle East Airlines. O número de plantão consular do Itamaraty segue à disposição, em caso de necessidade: +55 (61) 98260-0610 (com WhatsApp).
INSUMOS - Além de resgatar os brasileiros e familiares, o deslocamento do KC-30 até o Líbano é usado para o Brasil enviar insumos estratégicos em saúde para o Líbano. A aeronave levou 491 quilos de medicamentos, envelopes para reidratação e seringas descartáveis. A operação foi coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores, em parceria com Ministério da Saúde e o Ministério da Defesa. Além dessa carga, o KC-30 transportou sete toneladas de medicamentos arrecadados em iniciativa coordenada pelo Consulado-Geral do Líbano no Rio de Janeiro. No último domingo, 6 de outubro, um primeiro lote de doação do governo brasileiro foi enviado ao Líbano no KC-30, após a chegada do primeiro grupo de brasileiros e familiares repatriados. A carga continha 20 mil seringas com agulhas e 4 mil agulhas individuais.
ASSISTÊNCIA - Ao chegarem ao Brasil, as famílias são recebidas por equipes especializadas do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, e da Agência da ONU para as Migrações (OIM), que acolhem as demandas imediatas e avaliam se as pessoas têm redes de proteção familiar ou social no Brasil, além de determinar a necessidade de acolhimento em abrigos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), de hospedagem temporária e, nos casos de famílias em condição de vulnerabilidade, a possibilidade de passarem a integrar programas sociais do Governo Federal, como o Bolsa Família.
SAÚDE - Outra equipe que atua na chegada dos resgatados do Líbano é a da Força Nacional do SUS, formada por médicos, enfermeiros e psicólogos que oferecem cuidados quanto à saúde física e mental dos repatriados. A equipe recebe uma espécie de manual de costumes do país, envolvendo cultura, comportamento, vestimenta, linguagem, religião e alimentação para prestar um atendimento mais humanizado e acolhedor.
IDENTIFICAÇÃO - A força-tarefa de acolhimento de brasileiros repatriados do Líbano também conta com a presença do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que auxilia no controle e identificação dos recém-chegados. O trabalho é feito com apoio da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). “A PF montou uma equipe especializada e dedicada ao controle migratório e, junto com a Receita Federal, também faz a parte aduaneira”, explica Luana Medeiros, diretora de Migrações do MJSP. A PRF é responsável pelo suporte logístico humanitário em traslados terrestres da base aérea até as residências das pessoas que moram em São Paulo ou eventuais abrigos temporários. “Essas pessoas estão chegando de uma zona de guerra e precisam ser acolhidas. As equipes entrevistam os repatriados, identificam necessidades e fazem os encaminhamentos necessários”.
PETS - O Ministério da Agricultura e Pecuária manteve a flexibilização de regras para entrada de cães e gatos. As diretrizes facilitam o ingresso dos pets no Brasil. As unidades da Vigilância Agropecuária Internacional, em conjunto com a Coordenação de Trânsito e Integração Nacional de Cargas e Passageiros, adotam protocolo especial para animais de estimação provenientes do Oriente Médio. O procedimento permite que tutores ingressem sem a apresentação imediata de documentos exigidos em condições normais.
O QUE É - A Operação Raízes do Cedro foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir do acirramento do confronto entre Israel e o grupo Hezbollah, que atua no Líbano. A logística de repatriação envolve o uso de aeronaves e de servidores da Força Aérea Brasileira e um intenso trabalho de articulação do Itamaraty. O ministro Mauro Vieira mantém conversas frequentes com os chanceleres do Líbano e de países vizinhos com o objetivo de organizar o resgate com segurança.